quarta-feira, 30 de julho de 2014

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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Bailados de Roberta Sá



Formada em balé clássico, Roberta começou cantando samba e desenhando passos curtos pelos palcos: sua história é com o canto. Depois de oito anos de requebros e dia mais intimistas, consolidou a carreira de um jeito manso, como é sua voz. Diversifica ritmos, já fez temporada de bailes de carnaval e, pra tudo acabar em festa, está preparada para ser mãe.   

A cantora Roberta Sá tem um relógio na cintura. Aos 32 anos e casada com o também músico Pedro Luís, ela leva cada vez menos trabalho pra casa, embora a inspiração – como é praxe no universo artístico – não tenha hora para acontecer. O que lhe salva, como costuma dizer, é uma música de Chico Buarque, já gravada por ela: “Eu faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã.”
“Estou numa idade em que isso sempre está na cabeça e filho é algo que a gente quer muito”, diz, alegando que, apesar de a música estar no cotidiano dos dois, nos momentos de intimidade há trégua. “É difícil, mas temos conseguido. A gente leva cada vez menos trabalho pra casa. Claro, eu sou casada com uma pessoa que eu confio no gosto, no julgamento, e o Pedro é muito experiente. A gente tem uma relação muito grande do cumplicidade (...), respeitamos o espaço criativo do outro e estamos cuidando de uma parte musical para o lazer.”
Os dois formaram uma dupla antes de ser um casal. Roberta estava prestes a gravar seu primeiro disco, em 2005, e pediu uma música ao carioca. Nascida em Natal e radicada no Rio de Janeiro, ela recebeu de presente “No Braseiro”, faixa que puxou o título do álbum de estreia. Houve várias trocas até que ela bem retribuiu o apoio em 2011, gravando “Tempo de menino”, no disco solo do marido.
Os encontros não atendem exigências, como ela faz questão de frisar. Eles já subiram ao palco juntos, mas, afora as pequenas participações, não fizeram ainda um trabalho em parceria. São cobrados, mas Roberta despista. “Tem de ser uma celebração e vir na hora certa.”    


“Estou numa idade em que isso sempre está na cabeça e filho  é algo que a gente quer muito”, sobre ter filhos.

Um dos mais recentes encontros musicais da cantora foi com o madrilenho Alejandro Sanz, que ao ouvi seu álbum “Segunda pele”, a convidou para gravar a música “Bailo con vos”. “É outro departamento: ele é um pop star”, diz, com um semblante ainda de surpresa mesclado com distanciamento, mesmo que as afinidades tenham sido descobertas já no primeiro encontro, quando ele esteve no Rio de Janeiro. “Rolou química na hora de cantar e ele é uma graça de pessoa.”
Antes de gravar, voltam as vantagens de ter um parceiro em casa. Ao receber a música do produtor - Roberta e Alejandro Sanz estão na mesma gravadora, a Universal – ela pediu para que Pedro Luís fizesse uma versão. Terminou gostando das duas letras e, por isso mesmo, canta em português e espanhol.
Afeita a novidades musicais e fruto de uma miscelânea natural do Nordeste e dos grandes centros do Brasil, Roberta tem escutado outro artista hispano: Jorge Drexler, nascido no Uruguai, mas que hoje mora na Espanha.


Quando criança Roberta recebia os ecos da Jovem Guarda e ouvia clássicos dos Beatles, eram essas as influências dos pais. Ainda não pensava em seguir a carreira artística. Estudou jornalismo, caiu no programa Fama, da Rede Globo, não cedeu ao estilo americanizado imposto pelo reality, mas encontrou lá outro parceiro, Felipe Abreu, que se tornou seu preparador vocal.
Um ano mais tarde, em 2003, gravou um CD demo com cinco faixas. Aquilo chegou às mãos do autor de novelas Gilberto Braga e ele, assim, gravou um clássico de Dorival Caymmi para a trilha da novela “Celebridade”. “Meu primeiro disco realmente aconteceu por acaso. Fiz essa demo e a coisa foi acontecendo.” Oito anos depois ela conta com uma equipe para “realizar os desejos e também ajudar a colocar os pés no chão.”
Desde esse princípio, no entanto, parecia claro que a escolha era pelo samba. Roberta Sá cantava e desenhava nos palcos passos curtos, de uma dança quase retraída, se é que se pode ser assim. Mas era. Experimentada e tendo estudado balé desde a infância na companhia Corpo Vivo, ainda na capital potiguar, ela sabia o que apresentar. Muito distante daquele palco que se movimentava e era cercado por gruas pendurando câmeras de televisão, na sua primeira aparição para o país, ela desvendou os mistérios.
“Estou cada vez mais à vontade no palco. Tenho dias mais introspectivos e outros em que danço mais. O tipo de relação que criei com meu público me permite isso, que seja mais natural e expresse o que sinto”, garante e lembra o padrinho musical, Ney Matogrosso. “Ele diz: ‘você não precisa se mexer muito, sua história é com a voz’. E ele tem muita razão, minha história no palco é com o canto.”


A julgar pelos dois últimos trabalhos, vê-se que a relação de Roberta não era só com o samba, apesar de ela sugestionar em breve fazer um disco só com sambas. Atualmente está em turnê com “Segunda pele”, álbum que tem muito de transformação, de mudança de pele, ritmos variados e é um disco mais íntimo. “É um disco que fiz mais livre. As músicas falam de um olhar mais feminino, de uma mulher urbana, mas que é amorosa. Poeticamente o foco é na alma feminina”, explica.
Antes disso foi lançado “Quando o canto é reza”, em parceria com o Trio Madeira Brasil. “Se eu fosse gravar, seria uma coisa. Se o trio fizesse, seria outra. A gente bateu muita cabeça até encontrar uma sonoridade nossa e eu fiquei muito impressionada com o poder da música brasileira crua, de raiz, do violão de sete cordas, do repertório brejeiro do Roque Ferreira. O disco foi um sucesso comercial sem que a gente fizesse televisão”, comemora e revela sua inspiração: “Busquei minhas imagens de infância, da praia de Muriú, de Ceará-Mirim, no meu Rio Grande do Norte.”
Aliás, uma das grandes vantagens de Roberta é ser muitas, diversificar o repertório, de ser “potioca”, como certa vez descreveu Tony Garrido, meio potiguar, meio carioca. “O meu povo do Nordeste sabe receber muito bem e algumas coisas ficam na nossa alma. Eu guardo tudo isso e sou resultado de uma mistura muito grande”. 



Texto: Cristiano Félix
Fotos: Murilo Meirelles/ Cedidas

* Reportagem publicada originalmente na revista LivingFor.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Marina de La Riva


Gestos contidos se entrelaçam com movimento firmes e múltiplos trejeitos na face. São todos os referenciais de Marina de La Riva que se colocam em cada conversa e nos palcos. Em cada apresentação em que acessa emoções e volta da cena renovada, ouvindo ecos de coerência artística.


Mariana é ora rigidez, ora langor, vê-se pelos gestos. Talvez essa dicotomia surja da mescla entre Brasil e Cuba. Suas raízes podem ser encontradas nos dois lugares porque eles a memória alcança. Quiçá também seja essa combinação que lhe guarde frescor em conversas num meio de tarde e dramaticidade em cena.
Há muitas sutilezas em Marina, nada é tão evidente como a alma de pátrias e culturas divididas. Por trás de uma mulher de postura clássica, beirando a sisudez, ainda que não exista nenhum traço de soberba, se esconde uma pintura colorida, cheia de luzes. E sombras, por suposto. “Ninguém é monocromático”, dispara.
Marina de La Riva reconhece ser emocional por ter uma natureza artística, mas também faz questão de se mostrar razão. Ou apresentar, melhor. É nos show que exercita esse lado com mais vigor. É quando se faz intérprete, “com capacidade de acessar e voltar˜’, como bem define ao negar que cante melhor quando está triste.
“Eu sou uma profissional que tem um processo mental. Mergulho e volto, senão ficaria louca. Quando estou trabalhando, me entrego, faço a cena, me emociono e emprego minha técnica. Não fosse assim a gente se mataria”, diz, gesticulando como fora cortar os pulsos, dando amostras de sua verve dramática.
Seja cor ou música, os tons mais fortes, evidentemente, se sobressaem. E é assim que também aparecem detalhes por trás do visual sóbrio e da fala pausada. São pausas que buscam as palavras ideais e revelam pensamentos diversos, muitos idiossincráticos. Mas nada é desconexo. Tudo parece ter referências psicanalíticas e caribenhas, especialmente cubanas.
À Cuba Marina diz ter voltado sem ao menos ter ido uma primeira vez. “Pode parecer maluco, mas não é”, destaca. Filha de uma família exilada, Marina passou a adolescência em Baixa Grande da Leopoldina, distrito de Campos dos Goytacazes, cidade do interior fluminense. Conta ter a história da família como uma placenta. Por esse anexo embrionário foi transferido o alimento intelectual e emocional. Ouvir a mesmo trajetória repetidas vezes, assim como as canções cubanas, funcionava como forma de estancar a dor. “Eles queriam virar a página, mas crianças absorve tudo”, registra, lembrando o pai, Fernando, e os avós.
Os três fugiram para Miami quando da Revolução Cubana, no final dos anos 1950. Depois chegaram ao Rio de Janeiro, onde a família havia adquirido terras ainda morando em Cuba. “Eu sabia quando meu avô chegava em casa. Sentia o cheiro do charuto e dizia: ‘meu avô chegou, vou lá na sala conversar com ele’. Eu conheci Cuba no momento certo. Minha família sofreu muito com a revolução e talvez eu não tivesse cabeça pra voltar, já que fui criada do outro lado. Materializar a fantasia tem dois lados muito violentos. E eu fiquei com o positivo. Ou ela desmonta toda e vira éter, ou ela se refaz em realidade e diz ‘essas são suas raízes mesmo’. Eu me sentia na minha terra.”
Marina respondia em português enquanto o avó falava em espanhol. Cresceu com essa comunicação bilíngue e criou rapidamente identificação com as canções que hoje defende. “Eu fico emocionada porque tenho uma ligação afetiva com esse repertório. E essa é a obrigação do artista: ser verdadeiro. Porque, assim, outras pessoas vão sintonizar”.


“Materializar a fantasia tem dois lados muito violentos. Ou ela desmonta toda e vira éter, ou se refaz em realidade e diz ‘essas são suas raízes mesmo’. Eu me sentia na minha terra.” Marina de La Riva sobre sua viagem à Cuba.

Idílio: um grande amor não realizado

Tirando a poesia, “Idílio” representa um grande amor que Marina ainda não realizou. É ainda, afora um ao vivo, o nome do seu segundo álbum de carreira, que antes de ser lançado foi chamado de “Ausência”, por então ser a faixa do disco, de composição de Vinícius de Moraes e Marília Medalha, sua preferida.
A troca definitiva de um por outro se deu novamente por sobre a análise das cores. A capa do álbum seria negra, como a primeira, e sem foto de Marina. Assim ela queria, até sonhar com uma apresentação branca. Com a cor que simboliza a união de todas, mas também é conhecida como a ausência de cor, em cores pigmento.
“Ao longo do tempo comecei a perceber que “ausência” definia, sim, mas somente parte do disco. Era a parte mais escura. Não definia o todo, não era justo com a obra. A obra tem uma extensão, tanto que isso é contado na sequencia das músicas. Começa com um encontro e termina com um lamento.”
Início, meio e fim. A sequencia obedece a lógica de Marina, a artista que busca conexão com muitos mais e se recusa a aceitar que a forma de consumir música tenha mudado por completo. “Nessa época, que dizem que o disco não tem mais função, eu digo que não. Tudo bem que o mundo mudou, a forma de ouvir música mudou, mas o s❅r h◆mano, em essência, não mudou. O que sofreu transformação foi a forma, o imediatismo. O disco é feito para quem quer o disco, com suas fotos, letras e poesias.”

Na pele

A canção que embalou toda essa história continua sendo muito respeitada, mas foi “Voy a tatuarme” a escolhida para a gravação do primeiro clipe da cantora. “Trabalhar independente é dureza”, diz, antes de contar o esmero da produção, a escolha da canção e o investimento feito.
“Fizemos na argentina, com dois diretores maravilhosos, e eu adoro essa música. Ela é de um compositor cubano maravilhoso que se chama Amaυrψ Gutiérrez, que ganhou no ano passado um Grammy Latino de melhor cantor. Na argentina, a gente gravou num salão de tango interessante, porque era uma área abandonada e vários artistas foram se apropriando e levando obras pra lá, e hoje é um local super ‘buxixado’. Tem restaurante, bar, aulas de tango e aquela ‘vibe’. ‘Voy a tatuarme’ tem essa coisa de uma paixão muito forte. Imagina você o que é tatuar o nome de alguém?”, indaga com espanto.
O próximo trabalho já começou a ser desenhado e colorido, já que o tempo de Marina de La Riva não atende as urgências do mercado fonográfico. Passaram-se mais de cinco anos do primeiro álbum com participações ilustres de David Moraes e Chico Buarque, em 2007, até o segundo projeto, lançado no início desse ano. Como observa a fotógrafa Drika Silveira, Marina é um caldeirão de referências aquecido em fogo lento. Produz, ouve, se emociona, afasta, torna a escutar. Viaja, tenta esquecer, ouve mais uma vez, oferece aos mais chegados para ter deles opinião. Isso tudo ela faz para garantir o distanciamento entre pessoal e profissional, antes de lançar o álbum. É um processo custoso, realmente. “Não quer dizer que eu não sei flambar”, adverte.
“Pra mim a música é muito especial e tem esses dois lados. Ela só acontece no cérebro da gente, ela não é tangível. Vai saber como você ouve a música que eu ouço? Eu tenho uma necessidade de dar vazão a esse grande amor, com esse respeito que tenho pela minha vocação, e ao mesmo tempo ser super pé no chão. (...) Eu tenho um látego muito duro e uso comigo mesma. Eu sou minha pior carrasca. Não tenho medo de falar que vou jogar fora quatro músicas porque sei que tem investimento, tem o tempo, o tempo de lançar o disco, mas se eu não estiver feliz, não adianta. Ao mesmo tempo, eu vivo de música. Então, tem essa dicotomia entre a realidade e o próximo da perfeição que eu posso dar naquele momento.”


“Eu tenho um látego muito duro e uso comigo mesma. Eu sou minha pior carrasca. Não tenho medo de falar que vou jogar fora quatro músicas.”

O terceiro disco já começou a ser pensado. Marina e Júnior Barreto se encontraram e começaram a fazer música. Muitas ideias estão anotadas em um caderninho que fica sobre o criado mudo, já que a inspiração não ter hora marcada para acontecer. “Sabe o que é? O tempo da arte é outro. É o tempo interno, o tempo da fruta. Ninguém fala pra fruta: ‘fica pronta, rápido, o carro tá saindo’. É o tempo interno: a potencialidade, com o movimento, com o tempo. Aí gera o momento.”
Numa alusão ao disco de estreia, perguntamos: e a mariposa, onde fica? “É ela que me dá leveza! Sou um pouco ‘mariposita’. Meu pai falava comigo quando eu era pequenininha que eu parecia uma mariposinha. Brincava aqui, soltava ali, já fazia outra coisa. Eu sempre fui muito curiosa. Então ela é a menina alegre que eu deixo viver. Sem ela eu morro.”

Reportagem: Cristiano Félix e Drika Silveira
Fotos: Drika Silveira

domingo, 9 de fevereiro de 2014

“Tá tudo muito bem”


*Trecho da música "Você não soube me amar", composta por Evandro Mesquita, Ricardo Barreto, Guto Barros e Zeca Mendigo


Com um ukulele a tiracolo, Evandro Mesquita mete a boca no trombone, tira onda e defende que muito antes de Jack Johnson já tinha uma pegada de litoral no seu estilo de cantar. E também mete o bedelho na arte de outros, criticando os jovens atores que se dão bem com um modelo cansado de stand-up comedy.

O som era pop rock, mas as entradas declamatórias de Evandro Mesquita, em paradas bruscas nas músicas, deixaram muito claro o novo estilo que se misturava no verão de 1982 e no primeiro LP da banda Blitz. Usando a principal característica do samba de breque, eram jogadas as frases que transitavam entre a graça e a malandragem tipicamente carioca que o grupo queria imprimir.
Passados 30 anos do lançamento de “Você não soube me amar”, quem vê o líder do grupo andando com um pequeno instrumento de cordas pode, inadvertidamente, achar que mais de samba se encalacrou, seguindo o movimento corrosivo da maresia. Mas não se trata de um cavaquinho, senão de uma  de suas alterações. O ukulele também tem quatro cordas e descende do cavaquinho originário do Minho, no norte de Portugal, que foi levado para o Havaí por emigrantes em 1879.
É comum de se ouvir na música tradicional havaiana, mas, depois de descoberto pelos americanos é que o ukulele ganhou o mundo, chegando inclusive ao Brasil pelas mãos e dedilhados de Jack Johnson ou, vindo de Liverpool, anos antes, com a imagem dos ex-Beatles George Harrison e Paul McCartney, que utilizou o instrumento no arranjo original de “Ram On” e até hoje homenageia Harrison em seus shows com uma performance.
Juntar outros sons ao do instrumento de cordas beliscadas é ainda mais contemporâneo, como mostra Beirut, orquestra comandada por Zach Condo, ao unir trompete e percussão em uma de suas músicas mais famosas: Elephant Gun. E é isso que também tem feito a Blitz numa prova de renovação e atualidade.
Evandro não se separa do seu e, depois de sacá-lo numa improvisação, defende-se para não ficar pra trás: “Era o que dava pra fazer de improviso no meio da entrevista, mas desde que começamos a Blitz tem essa pegada meio praia e que hoje se fala meio californiana”, diz.


Evandro e sua trupe continuam compondo e prometem um novo disco de inéditas para o final deste ano. Até lá alguns sucessos de outrora estão na boca dos fãs e registrados também num DVD que tem lançamento previsto para agosto.
O show aberto ao público foi gravado em dezembro passado no posto 8 da praia de Ipanema, bem perto de onde a banda começou sua história: o antigo píer do Arpoador. O Instrumentista Rodrigo Sha, o sambista Andrezinho e Ivo Meireles, que aparece acompanhado dos ritmistas da escola Mangueira estão entre os convidados.
Eles participam da primeira comemoração pela marca de três décadas, mas não devem ser vistos juntos em outros shows, já que a agenda é longa. A turnê nacional da Blitz deve durar até o ano de 2015 graças ao projeto aprovado pela Lei Rouanet de incentivo à cultura no valor de R$ 2,3 milhões. O suficiente para fazer – e lucrar bem - 30 apresentações a preço populares.
Se não há participações especiais, Evandro Mesquita se vira com o humor colocado em performances teatrais e falas que são prontamente respondidas pelas backing vocals, entre elas a sua companheira, Andrea Coutinho. E de teatro ele também entende. “Sou de uma época em que uma peça de teatro mudava sua vida, não fazia só rir um pouco. Por isso é que não gosto das apresentações vazias desses novos humoristas de stand-up.”


“Não gosto das apresentações vazias desses novos humoristas de stand-up.”

Depois da alfinetada, Evandro se esquiva. Não entra em detalhes ou cita nomes, diferentemente do que faz com políticos, alvos de suas piadas e chacotas e vários shows. Ao invés disso, o ator que está há anos no mesmo “A Grande Família”, defende os precursores – ou os primeiros a fazer esse tipo de comédia de cara limpa, importando dos Estados Unidos - no Brasil.
“Eu gostava dos stand-ups que faziam o Chico Anísio e o Jô Soares. Tem uma rapaziada jovem e de muito talento que está contribuindo com uns lances bacanas, mas de algumas pessoas eu não gosto. Acho que é assim em todos os lugares.”
Das boas iniciativas, Evandro só arrisca uma – e que a essa altura talvez já seja um clichê, dada a incontestável vitória de construir o maior canal brasileiro no YouTube, com mais de 3,5 milhões de inscritos. Lançado em agosto de 2012, menos de um ano depois o Porta dos Fundos já ocupava a 53ª posição em nível mundial e faturava em média a bagatela de R$ 60,1 mil por mês, podendo atingir picos de 261 mil dólares, segundo o Social Blade. Idealizado por Antonio Tabet, Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Ian SBF e João Vicente de Castro, o canal tem a proposta de produzir dois vídeos por semana.
“O teatro pra mim é sagrado e o stand-up é uma das formas de linguagem. Sei de uma galera que está conseguindo coisas legais. A liberdade e a independência do pessoal da Porta dos Fundos é um caminho sensacional. Eles conseguiram uma vitória ferrada sem nenhuma mídia em televisão, sem nenhuma censura. Pra eles eu tiro meu chapéu”, disse.
Deles Evandro ainda não terminou sendo vítima da Porta dos Fundos, mas foi de outros companheiros de humor. Tanto que já confirmou, depois de ver algumas imitações, que poderia chamar Eri Johnson para lhe socorrer em alguma apresentação da Blitz. Não dá pra dizer que o Eri Johnson cante, mas, de fato, a imitação do sotaque exageradamente carioca zoa com qualquer boa fama e pode ser tão divertida quanto.

Texto: Cristiano Félix
Fotos: Ramón Vasconcelos

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Tom Veiga, o legítimo



Parece exótico, mas foi no coração de São Paulo que Tom Veiga descobriu o surf art. Cansado de receber briefing de agências de publicidade para poder criar, o curitibano se deparou com uma exposição no meio do Parque Ibirapuera e ficou fascinado pela forma autoral com que artistas expunham seus trabalhos. E quis entrar na onda, mesmo sem sequer saber nadar (é verdade!).



Outro dia conheci o trabalho dele, que já circulou quase todo o mundo, de desenhar ondas com formas lúdicas e multicores. Tudo é primeiro feito no papel, sempre numa cafeteria do Mercado Municipal de Curitiba, e em seguida passado pra o computador.  Marcamos uma entrevista.
“Um ano depois do início,  já tinha atingido uma boa projeção. Percebi que tinha um valor que ainda não conseguia mensurar. Então, de repente, as marcas que eu procurava no início da minha carreira para mostrar meus trabalhos, é que começaram a bater à minha porta. Coloquei os pés no chão e procurei me aperfeiçoar, até aceitar os primeiros convites”, disse Tom.


E não é que outro dia estava eu circulando por um shopping e dei de cara com os desenhos do cara estampando as lendárias Havaianas? Muito bacana ver que o design dele casou perfeitamente com o produto. Garanti um par. E se você quiser conhecer mais sobre o trabalho dessa figura, acesse aqui a galeria virtual: SerieWaves.